RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo reconhecer a identidade moderna perante o cenário literário europeu do século XX através da análise de textos de Fernando Pessoa, mais especificamente do Livro do Desassossego, que constitui obra privilegiada para a análise dessa nova identidade. Para tanto, realizamos uma seleção de trechos do Livro – os fragmentos 1, 3, 7, 10, 36 e 175 – já que estes mostraram uma grande identificação com os efeitos que o advento da modernidade trouxe ao indivíduo, que passa a questionar sua identidade com a experiência da vida moderna, visto que nesta ocorre um rompimento com a ordem tradicional que vigorava até então, onde a noção de identidade era marcada pela tradição. Para possibilitar a análise destes trechos, realizamos leituras de um conjunto de textos teórico-críticos sobre a questão identitária. Com a leitura do texto A Sociedade dos Indivíduos, de Norbert Elias, pudemos verificar uma nova concepção no modo de interpretar a sociedade e os indivíduos que a integram, refutando a idéia comumente aceita de que a sociedade e o individuo devem ser vistos de modo separado, sem nenhuma relação. O texto Mitos do Individualismo Moderno, de Ian Watt, nos possibilitou examinar nos fragmentos selecionados as características individualizantes assumidas pelo sujeito moderno, representados por Watt através de três personagens literários – Fausto, Dom Quixote e Dom Juan – de obras surgidas no entre os contextos do Renascimento, onde a afirmação da identidade individual ocorria, e da Contrarreforma, período em que houve o refreamento da postura individualizante do sujeito por parte da Igreja. Por fim, a leitura do texto O imaginativo e o imaginário, de Northrop Frye, permitiu-nos verificar de que modo o homem moderno retrata sua nova condição identitária diante da modernidade em que se encontra.

Palavras-chave: Literatura Portuguesa, Fernando Pessoa, Livro do Desassossego