A AMÉRICA NA LITERATURA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO

1306

Aluno de Iniciação Científica: Ana Carolina Werner da Silva (PIBIC/UFPR-TN)

Curso: Letras - Inglês ou Português com Inglês (M)

Orientador: Milena Ribeiro Martins

Departamento: Lingüística, Letras Clássicas e Vernáculas

Setor: Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes

Área de Conhecimento: 80206000


RESUMO

Nossa pesquisa procura apontar e analisar a presença da cultura norte-americana na literatura infantil de Monteiro Lobato. Partimos da hipótese (confirmada ao longo da pesquisa) de que as obras produzidas durante e logo depois do período em que o escritor morou nos Estados Unidos trariam importantes marcas daquela cultura. Considerando que todo texto é um "tecido de muitas vozes" e que não se pode pensar no texto fora das relações que o ligam a outros, procuramos analisar como discursos relacionados a aspectos culturais norte-americanos, como por exemplo o elogio e a crítica ao progresso, foram incorporados ao tecido ficcional de sua literatura para crianças. O ponto de partida desta análise é o livro América (1932), de Lobato, publicado logo após seu retorno ao Brasil, depois de ter vivido por quatro anos em Nova York. Nessa obra, duas personagens discutem aspectos positivos e negativos das sociedades norte-americana e brasileira enquanto viajam pelos Estados Unidos. Os temas tratados são variados: vão de vida cotidiana, cultura e economia, até aspectos históricos e políticos dos Estados Unidos e do Brasil. É importante destacar a existência em América de críticas à sociedade norte-americana, embora sejam predominantes no livro o elogio à personalidade, à industrialização e à eficiência daquela sociedade. Percebemos, dessa forma, a presença de um discurso e seu contra-discurso tanto na literatura adulta quanto na infantil. Esse aspecto aparentemente contraditório é o que caracteriza o gênero literário, para Bakhtin; nas palavras de Fiorin (1996), "diferentes vozes sociais se defrontam [no discurso literário], se entrechocam, manifestando diferentes pontos de vista sociais sobre um dado objeto". Muitos dos temas de América estão presentes nas histórias do Sítio do Picapau Amarelo e alguns deles foram tratados na literatura infantil antes mesmo de serem apresentados na obra adulta do escritor. Elogia-se nas suas obras a independência da mulher através da caracterização de Emília que, mesmo sendo uma boneca, rompe com a ideia tradicional de mulher sentimental e dependente. Ao mesmo tempo Lobato apresenta em A Chave do Tamanho (1942) uma crítica ao progresso e à modernização desenfreados. Ou seja, assim como o progresso é capaz de trazer desenvolvimento, transformação e autotransformação, ele também traz malefícios como a homogeneização das sociedades. Mais do que defender ou atacar o progresso e a modernidade, Lobato propõe um debate e uma reflexão a respeito das contradições da modernização ao incorporar discursos conflitantes em suas obras.

Palavras-chave: Monteiro Lobato, Literatura Infantil, Influência Americana