PORTUGUESES EM ANGOLA E GOVERNANTES AFRICANOS: SEUS CHOQUES SEGUNDO OS ANNAES DO CONSELHO ULTRAMARINO (C.1850C.1865).

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Aluno de Iniciação Científica: Felipe Pires Vilas Bôas (PIBIC/Fundação Araucária)

Curso: História - Bacharelado (N)

Orientador: Carlos Alberto Medeiros Lima

Departamento: História

Setor: Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes

Área de Conhecimento: 70503001


RESUMO

Pelo exame dos relatos sobre Angola, contido nos Annaes do Conselho Ultramarino (parte não official), pretende-se capturar aspectos que revelem em que medida as relações estabelecidas entre portugueses e autoridades africanas apontam características da elaboração de projetos coloniais e de novas formas de interação social em Angola objetivando compreender o que esta amálgama de sociabilidades permite indicar sobre o processo de transição do pré-colonial ao colonial. Os Annaes foram compêndios produzidos em Portugal no século XIX, e tendo por objetivos, além de trazer notícias das colônias, corroborar um discurso colonialista como ressalta João Pedro Marques. Nos relatórios e notícias publicadas, entreveem-se as relações entre portugueses e autoridades africanas durante o século XIX, marcado pelas últimas práticas ligadas ao tráfico Atlântico de escravos e pelo início da circulação de projetos coloniais em Angola. Os relatos a respeito desses choques permitem a elaboração de um repertório de alternativas inscritas no relacionamento entre a imagem do domínio luso e as sociedades locais no estado em que se encontrava a hierarquia social no interior de cada sociedade africana envolvida e nos vetores de expansão e consolidação da presença portuguesa. Devidamente contextualizadas, observa-se nos exames das fontes alguns aspectos relativos a um comportamento político centralizador por parte das chefias Mbundu. Tudo indica que a postura centralizadora das chefias tenha sido incentivada pelos agentes coloniais, na medida em que uma comunidade com hierarquias políticas mais definidas se torna mais aberta à presença externa que do uma comunidade dispersa. Tais atitudes centralizadoras tinham como ponto de partida, a (re)formulação de redes comerciais. A centralização política perpassa a reestruturação das comunidades e leva a uma reflexão acerca de como e por que se procedeu a mudança na lógica política. A reestruturação do comércio lícito no século XIX como apontam Roquinaldo Ferreira e Jean-Luc Vellut teve as chefias assumindo papeis de liderança no trato comercial. Esta reação das chefias estava voltada a uma centralização política ao seu redor criando estruturas governativas mais estáveis, corroborando com o comércio e seguridade internas das comunidades, em um contexto de crescente escravidão interna em Angola. Mesmo com a gradual centralização destas chefias, ainda observa-se comportamentos típicos do século XVIII, como o constante reconhecimento de equidade de poderes nos contratos de vassalagem, sobretudo nas comunidades ao sul de Angola.

Palavras-chave: Annaes do Conselho Ultramarino, Zona Atlântica, Projetos Coloniais